Um presente de Ramiro Torres, um dos operários d’o levantador de minas, inspirando-se no meu [de]construçom. Obrigada. Adoro intertextualidades.
Para Susana, com afecto.
A casa esconde pentagramas infinitos,
jardins de uma dimensão desconcertante,
estâncias desfechadas que andam por si
a construírem a música de um parto
imaginante no centro da cabeça.
Inquilinos do silêncio, arquitectos
mudos de uma alegria imanente,
somos partículas de uma estrela
vertebrada no interior do abismo:
despregam-se-nos asas nos olhos,
tactos de brancura nas mãos,
pálpitos nos tentáculos da alma,
enquanto achamos a edificação
do mundo no respirar desarmado.
É-nos doce a ferida da rasgadura
da luz no telhado do ser, quente a
disposição da beleza operando
a mudança final para desasir-nos
no indefinível, e cairmos na
imensidade desta morada que
abrolha como aniquilição da sombra.
Novembro de 2010.